terça-feira, 4 de setembro de 2007

Patchuli

A antiga mesa
Range ao leve toque.

O tempo passa para as coisas.
Passamos ao passo rangendo.

Meu pai dizia,
Que o que a gente leva da vida
É a vida que a gente leva.

Meu pai passou,
Mas levou a sua prenda.

O cheiro de Patchuli de suas camisas
Ainda circula no armário.

Os tecidos foram.
A essência escolhida por tantos anos
Não teve frestas por onde escapar.

Hoje passei horas olhando a mesa,
Suas cadeiras de madeira,
Seus pés suportando o peso frio...
Imagino se ela quer descansar,
Se a história já lhe é uma carga muito mais pesada
Que o mármore branco estendido
Por tanto tempo em sua altura.

O tempo passa para as coisas.
Passamos ao passo rangendo.

Recordamo-nos eu e a mesa
Serenas.

10 comentários:

Mila Cardozo disse...

Alguns dirão que são apenas coisas... mas pra mim... são histórias... capazes de abrir o tunel do tempo e nos levar nele... de nos fazer sentir aromas que não estão ali, ouvir risos que a muito não existem e emoções que somente quem viveu saberá...
Beijos Mila

Carmim disse...

As lembranças, são tesouros pessoais que ninguém pode roubar-nos.

"Meu pai dizia,
Que o que a gente leva da vida
É a vida que a gente leva."

Nunca tinha pensado nas coisas dessa forma, mas essa frase mexeu comigo... gostei bastante do impacto que ela teve em mim.

Beijo.

A Autora disse...

Que especial teu jeito de recordar.....gostei muito...beijos Carol Montone

Sol da meia noite disse...

Nós passamos pela vida... e a vida passa por nós.
E a vida, é todo um conjunto de tanta coisa que não se esquece... porque está em nós.

Também recordações...

Beijinho!

. fina flor . disse...

ai que vontade de chorar........

beijos, querida

MM.

Claudinha ੴ disse...

Lindo e triste! As mesas são pontos de partida para a saudade, porque nelas sempre falta alguém... Beijos!

Ricardo Soares disse...

passamos ao passo rangendo e as coisas vão acontecendo...gostei
aparece,bj
ricardo

octavio roggiero neto disse...

seus versos suscitam uma melancolia tão agradável. unem sensações que teriam de tudo pra serem conflitantes, mas que no entanto levitam harmoniosamente num olhar sereno.
é uma curiosidade clariciana o que sinto quando leio você, como quem não quisesse gastar a alegria, pra conservá-la quietinha ali, pra um outro momento, senti-la aos poucos, saboreá-la vagarosamente.
"Patchuli": quanta riqueza de imagens! como pode caber tanta beleza em versos tão simples, em palavras tão corriqueiras como as de uma conversa, e tão espontâneas? sim, a simplicidade, eis o segredo...
lindo demais!

J.F. de Souza disse...

Muito interessante...
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O Tempo
nos enfraquece
por mais que ele nao queira isso

Bichodeconta disse...

É isso ai amiga, para nós , por vezes o que escrevemos são pedaços de nós. Parabéns, voltarei mais vezes.. Um abraço, ell