sexta-feira, 29 de junho de 2007

Da despedida

Trocos sobre a mesa
Copo suado quente
Maçaneta debruçada

Ombro de tempo

Passos de chumbo
Adeus quase mudo
Vontades desesperando

Esse perfume feito tinta

Nodoa de tempo

Encruado
Nas paredes
No taco
Nas sobras

Em tudo.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Cores certas

Tenho a certeza
Azul
Das gentilezas da vida

Minhas memórias
Amarelas
Vivas

Meus olhos
Verdes
Moradas paisagens

Aconchegado meu sangue
Tinto
Em mãos de concha

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Acordo com o tempo

Fiz um acordo com o tempo menino

Parei naquela margem
Onde o rio passa brincando
Com as pedras redondas do fundo

Parei naquela areia morna
Quarando ao sol
Rindo acalanto

Parados ainda em mim
O céu azul de Verão
Nuvens mudando cirandas
O toque do sol na terra
As árvores

As vidas sob as árvores...

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Fim da semana

Soube que alguém morrera
Numa manhã de Domingo...

A linha, ás vezes
É tão preta e branca

A linha da vida
Nas tantas palmas

Meus dedos percorreram palavras
Manchados de tinta, apenas.

Em ponteiros desconcertantes
As horas obedecem seu destino

Passam...

Ora dançarinas
Ora estátuas

Digitais em prateleiras
Provão tez

Pano passa
Foi-se a prova

Pregos lacram Cedro
Lenços dobram dor

Numa manhã de Domingo
Soube que alguém morrera

Bom dia para descansar.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Noturna

Noturna
Esfria o corpo
Roupas de algodões
Em sua boca
Estrelas e luas e cometas e corujas

Descansam os parques.
Calçadas de entreabertos olhos
Vigiam os passos
Em pedras portuguesas

Adormecem
Muros e árvores e bancos e jardins...
Folhas reclamam igarapés

Os siriris
Em cirandas de luz
Aos montes
Cantam nomes
Em sérias ruelas

Cala o verbo
Nasce a pele

O corrimão delatador
Trinca estrondosamente
Sob as mãos de alguém que chega

As crianças nos berços
Sonham
Os poemas nos livros
Amam
As chuvas nos telhados
Tilintam

Noturna
Chega como de costume...
Com suas luas e estrelas e cometas e corujas
E céus e bocas e trombetas e silêncios.

sábado, 9 de junho de 2007

Líquida II

A fita larga do mar
Me convida a dissolver

Dend’água fico fluida
Os tons são azuis
Eventualmente
Notas de verde

Tempo, velho
Novo amigo
Cá dend’água
Sua rota é perdida
Nesse mar com gosto
Areia de suas mãos
Só faz afofar
Meu peso breve

Na beirinha
Meu filho está nos braços do pai
Tento chamar sua atenção

Está perdido
Assim como eu

Tempo, velho
Tudo é tão grande
Em nossa pequeneza...

Todo amor que sinto aqui
Dend’água
Liquefaz meu corpo
Me torna Oceano Atlântico

Tempo, velho
Nunca você foi
Tão novo e bom amigo

Meu filho observa o todo
Perdidamente...

Meu marido em seus braços
Divaga...

Eu
Liquefeita
em mar
E amar

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Início

Parte minha
Parte sua
Minha
Sua
Vida em
Uma

Nosso amor
Amor ele
Vivo
Início
Ser
Perene

Mundo inteiro
Inteiro seu
Corpo
Novo
Tempo
Tudo

Nele a
Vida
Partida
Parte

Arte

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Líquida




Venta na cidade.
Os carros passam pelo asfalto cinza
deslizam, precisos, pela leve camada de água em tapete.
Metálicos andarilhos de gente...

O céu é azul
o lilás do mar apaixona
e o sol, mesmo recluso,
se anuncia pelos vãos das nuvens.

Semana nova.
Pouco importa...

Passamos os dias passando
copiosamente regidos
pelo acaso de tudo.
Nos achamos, de fato
menos submissos.

Alguém suplica algo.
Não se ouve.

As buzinas cantam com a chuva
num dueto entristecido.

É Outono dentro de mim.

Mas
o céu é azul
o lilás do mar apaixona
e o sol, mesmo recluso,se anuncia pelos vãos das nuvens.
-
Foto: Tiago Lima (http://www.tiagolima.com)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Soneto da Rosa apaixonada

Sou a rosa na tua escrivaninha
Para tua íris descansar a mágoa
Feito uma alga marinha
Meu caule repousa na água.

Pelo duro vidro posso ouvir
Escrevendo de voz em falta
Não te cobro um tocar de flauta
A mim basta orquestrar-te ali

Nas pétalas uma nota de socorro
Encoberto pelo claro foro
Vendado no meu partir

Vou indo mansa, alegre
Sei que o viver é breve...
Sorte é morrer vendo-te sorrir.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Santuário

São Joãos
embolhando nas chamas
de labaredas dançarinas

São Marias
devotas
meninas

São Joãos
pintando balões
de grená

São Marias
miúdas
mas sábias, quiçá

São Joãos
de olhos firmes
perdidos no ar

São Marias
bordadas no ouro
do colar

São Joãos, são Marias
de terra com sal
bentos num milagre
quase natural

Vistas de pontos

Eu nascente
Você poente

Tentados ao mesmo sol
Em barrancos diferentes

sábado, 2 de junho de 2007

Reza de viola

Uma viola toca canções contentes.
Não há nessa morada
nada que lembra água
nos olhos da gente

Hoje a noite chamaram uma alegria cancioneira
viradas nas cordas tensas
saem leve como o nada
pra dançarem enluaradas
pelos céus de bocas quentes

Até a lua se fez mais cheia
enquanto as estrelas primeiras
eram pintadas no escuro
formando um mar de contas
harmoniosamente tingidas pelas mãos do criador

Cá dentro um amornar cadenciado
na medida em que o dedilhado
espalhava-se manso
pelas audições presentes

Cantigas de santos terrenos
Gigantes
Embora pequenos
Trazem um pouco de fé...

Por cada nota transpasso um fio.
Teço um rosário transparente
para rezar seus mistérios
quando a viola for versar
em outros ouvidos fieis.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Sobre o tempo

Folhas secas em mim
graciosamente marrons
suspiram...
Um vento marítimo
as sopram suficientemente devagar
para que eu as observe.
Uma a uma se vão pelo basculante
Sem beleza.
Sem tristeza.
Por sorte
levam um pouco de saudade...
Pela fresta dos meus olhos
água breve
morna.

Por baixo dos pés
um inicio de pastagem
verde novo
adentra meus calos
toma meus calcanhares
pernas
cochas
envolvendo parte por parte
do meu corpo.

Entra na minha boca
fazendo flores preguiçosas
nascerem em meu estômago
(vazio há muito...).
Vomito pétalas
Rosas
Roxas
Amarelas
para nauseada
desmaiar
de barriga colorida.