segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Café das Oliveiras( Para minha mãe)

Pus-me em seu lugar. A fundura atribuída a seu peso me faz acomodar o corpo de maneira confortável. Fixei-me nas rugas que beiram seu olhar verde, a sobrancelha fina, noutro tempo era moda e você inda era moça e eu nem era ainda. As pinças puxaram os fios. Finas simplesmente, me parecem saber do que se tratam os navios, as paisagens, o Café das Oliveiras. O modo como se colocam sobre seu rosto, apesar do pressuposto, te tornam um tico frágil. Meu olhar, em ti, encontra mesmos caminhos, bares e esperas.
E, embora não vivamos no mesmo porto, a porta ainda junta as madeiras do Pinheiro.
Inda há os anéis postos sobre a mesa de centro, quando os aços se desdobram pela cama feita.
Pus-me em seu lugar. Nos contos da Carochinha. Repetindo as mesmas ênfases dos diálogos. Porque se repete o que não se pode largar. Cada palavra dizia seu nome e não pude deixar de rir. Nessas horas sem que nem pra que é que te encontro. Não há como não ser, já que os bichos estão em migração, mas de certo que voltam para mesmas terras. Seus filhos também. E os filhos deles... Até Deus sabe quando. Tudo junta no mesmo lugar, porque sair mesmo, ninguém é capaz. Cada piar é volta e me entorno em suas beiras, nessa primeira vez... Para retornar a mim e saber qual de mim irá partir. Quais partidas serão. Quais pedaços seus e meus.
E, como mãe que sou nesse tempo, tudo arde um pouco mais. Talvez por isso seu lugar seja tão fundo. A água já não cobre muito. Os olhos viram espelhos.
Pus-me em seu lugar.
Coisa que nunca tinha feito. Era cria. Diabo. Mato.
Mas hoje me atrevi.
Respirei seu ar cansado.
Como cansa respirar...
Sustentei cada músculo seu numa tentativa de revés.
Suas toalhas.
Desdobrei os lenços antigos.
Guardanapos.
Tecidos.
Enxuguei-me em véus guardados pra mim.

Pus-me em seu lugar
E nos seus olhos, vi os meus, de repente.

6 comentários:

Sol da meia noite disse...

Texto que comove...
Momento um tanto transcendente... momento calmo, lindo...

Beijinhos!

Carmim disse...

Camila, que texto lindo.
Senti um misto de força e suavidade... parabéns!

Beijo.

Anônimo disse...

vc me arranca lágrimas...

marcelo disse...

olá camila,
obrigado pela visita,
bonitos os seus textos :]
voltarei novamente,
abraço!

caduco disse...

gostei de estar neste seu gracioso canto.

Liza disse...

quis encontrar palavras para expressar a minha emoção ao ler "café das Oliveiras"... Quis.