quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Constatação Tardia

Raios solares de mesmo incômodo
Atingem-me como de costume,

Os sons não param de insistir,
Enquanto me espreguiço
Pelos lençóis agitados
Da cama, mesma, desde menina.

Levanto para um banho
Quente, muito quente.

Há óleo em meu corpo
E no ralo se perde a espuma.

Minha tez espera
O momento em que as vestes
Enfeitarão seus acinzentados.

Penso na noite, mesma,
Desejando acobertar-me
Pelas horas de um sono
Calmo.

Percebo em meus desejos, mesmos,
Que sou uma mulher cansada
E anseio pelas vozes dos falsos
Calares.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sambinha de tudo que vai.

Morena, meu doce,
Vou-me embora.

É chegada a hora
Do adeus
Morte de viver.

Não se acanhe em chorar
Mas não teima, vou voltar,
Pros teus braços,meu querer.

Vou selado pelos silvos
No meu peito um remendo
De seus olhos sempre vivos.

Morena, meu doce
Vou-me indo devagar.

Vê a lua,
Vê o mar!

Ouve samba
Pois num samba
Mora a dor de ser quem é,

No samba, morena,
Encontramos bons motivos.

Fecha teus olhos castanhos
Que num piscar volto vivo

Deixo aqui a canção
E levo no bolso o refrão
Das notas que estive contigo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Felicidades


( Para meu filho que revela tanta vida em apenas um ano)



Hoje fez ano
Que o furor soprou manso
Nesses dias que seguiram.

Lençóis, camas e cantos
Tornaram pequeno piado
Enquanto seus olhos dormiam.

Dos quentes que habitavam
Ainda resta o telhado
Enquanto um azular, nos passos, ascende.

De modo que o encanto,
Depois de ano, de sons e horas,
Calhou de ser abrigo.

Por ser feita assim essa casa
De frescas em raios magenta

Da janela vê-se, não é raro,
Verdinhos ramos de menta.
-

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Só e a lua

Ela branca sai
Da boca da noite
Só um Hai cai.

O cardápio da Joaninha ( Para Paulinho e outras crianças)

Redonda pela sombrinha
Com seu vestido vermelho
Todo pintado em bolinhas

Parece uma senhorinha
Essa Joaninha.
Andando assim pela folha
Numa miudeza, escondidinha.

Dia desses veio o pulgão
Temeroso, olhando os lados
Perguntou da Joaninha
E foi saindo, assim de lado.

Não entendi a agonia
Desse bichinho invocado!

Mas não é que me contaram
Numa certa ocasião
Que bom prato, para Joaninha,
É o apetitoso pulgão.

Não poderia adivinhar,
Que ao olhar o bichinho daquele jeito,
A Dona Joaninha queria mesmo
Era encher sua pançinha.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Chegados calores




No instante em que as águas aquecem
Descem da pirambeira
Nuvens estreitadas em branco.

O calor, que era jura,
Cumpri-se em transparência

E eu sei, já era tempo
Das roupas secarem.

Corpos se achegam na areia
Protegidos pelas horas,
Que agora, são de bem viver.

As prosas são de meninice
E uma comichão fervilha
Calcanhares distraídos.

Chamas horizontais
Chamam e o cio atende,

Enquanto silhuetas coloridas
Douram seus calores
Com seus pudores ao léu.
-

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Blues




São só
azuis
os Blues?
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Tela: "O velho Guitarrista" - Pablo Picasso

Cansadas




Tropeço em seus contornos
Todo santo dia desde o primeiro choro.

Escorro por veias
Enquanto o sol, ainda morno,
Consterna-me em pensamentos.

Suas manhãs sempre me foram caras,
Muito embora as tardes,
Inundem-me de saudades tenras.

Horas chegam em primeiro
E meu lento coração implora,
Pelos segundos fracionados.

A passarada ruma aos montes,
Por cima das casas coloridas
E fito por entre as vigas...

Pessoas rumam em bando,
Pras bandas de algum lugar.

Ai, esse mar...
Tanta água umedece
Os cálculos das minhas fugas
Rabiscadas em papeis de seda.

A cidade me concreta em queixa,
Confessa-me uma agonia tanta,
Que roga aos meus rompantes
Algum suspiro manso.
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Foto: Tiago Lima (http://www.tiagolima.com/)