sábado, 28 de julho de 2007

Mar em sina

A rede no mar
Imenso colar

Os peixes que voltam
De força, entortam
A linha do ar

Mariazinha vem ver!
José vai pescar
De short de lista
Sem blusa a cantar.

Maria de beira
Reza um voltar
Mas quem diz que volta
Não sabe ficar.

O Zé foi pescar.
Maria chorando...

É sina de mar
Águas levando...

Vai, neguinha!(Serie Mámá e eu)




Vai pra festa, neguinha
Hoje é dia de roda
De samba
De samba

Já sei pr'onde cê vai
Quando da esquina tu sai
Toda bamba
Toda bamba

No ar fico um cheiro
Gentil e certeiro
De lavanda
De lavanda

Vai pra festa, neguinha
Que o trabalho acabou
Caramba!
Caramba!

Vai pra festa, neguinha
Hoje não tem ladainha
Nem zanga
Nem zanga

Noturna II

Noite ri
Preta Dama
Ama só.
Noite, note
Pó a pó.

Noite eu
Escuro dia
Ria ontem
Hoje fria
Ia...

Sob a noite
Só lhe dão
Marfim

Só.
Oh!noite
Assim
Assim.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Para Vinicius

Não negue, benzinho.
Não dá pra não ser
Todo amor é criança
E do tanto que dança
Esquece de crescer

Benzinho, benzinho
Não dá, vai doer
Todo amor é ciranda
E do tanto que gira
Faz o mundo correr

Meu doce benzinho
Eu sei, vou te ver
Meu amor é querendo
E do tanto que quer
Lembra pouco de ser

Meu tolo benzinho
Eu sei vai morrer
Meu amor estação
E do tanto que passa
Vai passar por você

Então vem, benzinho
Faz queixa não
O relógio não para
E do tanto que fala
Não me abre o botão

Encontro II

Encontro-me comigo
Mostro vãos profundos
Entristeço
Nas minhas páginas
Amareladas manchas
Sentem tudo um tanto velho
Reconheço minha letra
Mas os adornos no topo
Não foram feitos de minha junção
Entristeço
Perdi a autoria
Lacunas se fizeram
Sem que o vazio
Revelasse sua forma
Esmoreço
Acomodada leio
De mim em mim
E fecho.

sábado, 21 de julho de 2007

Pau, Linho (Para Paulinho e outra crianças)

É pau
- Au, au!
Vem cá bichinho
Vamos brincar?

Subir ladeira
(que é cadeira)
Deixa pra lá.

É alpinista
De pé bem sujo
Tem uma pista
Nesse sofá.

É linho
-Inho, Inho!
Vem cá nininho
Vamos nana?

Deitar na nuvem
(que é Dona cama)
Deixa pra lá.

Mamãe cansou
Papai também
Fecha os olhinhos
Dorme, meu bem.

É o Paulinho
-Bom dia, dia!
Vem cá manhã
Vamos brincar?

De descoberta
(que é vida)
Melhor brincar...

Mamãe te cuida
Passa um gelo
Se alguma queda
For de lascar.

Vem cá meu pau
Vem cá meu linho

Vem, meu benzinho
Treinar sonhar.

Cantos iniciados em estantes

Do que ia dizer
Somem vestígios

Da boca cerrada
Imaculada mudez

Meus cantos em volume mínimo
Solfejam intervalos contínuos
Tentam falsetes de chão

Enquanto me espremo
Em vãs tentativas
Ruídos internos
Regressam minha voz

Pequeno balbucio
Na quina da estante
Sorri de engasgar

Todo refrão retorcido
Bandido, banido
Cerca-me em questão

Do que não era nota
Do que era apenas não coisa
Faz-se telha e porta
Faz-se janela e tijolo

Faz-se casa de Sol
Faz-se pequena cantante
Aprendiz vizinha
Dos cantos de estantes

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sobre as mães

Mães são circulares
Semi lares
Plantações

Contidas
Abertas
Como uma quase coisa
Equilibrada

Jardins
De rosa
Margarida
Gira
Sol?

Giram elas!
Redondas
Cilíndricas
Amarelas

São de voltas
Contornais

Mães são grandes
São gigantes
São ovais

Bolhas de sabão
Presas num fio
De amarração

Sempre gordas
Vivem suspensas
São imensas
Em céus pingados
De azuis

Inverno II

Inverno
Continuo

Acinzentando
Azulando

Gotas em vidraças
Fingem caminhos
De chuva

Julho
Passada metade
Outra chegando...

Rios e mais rios
Em mim vão nascentes

Correntes
Torrentes

Incólumes
Seguem os sulcos

Água junta
Água boa

Pêlos, plantas
Ciclos, vincos

Cheia transbordante

Fruta fresca
Em silêncios
De manhãs

Inverno I

São frios os dias
Sem embarcações

Do mar
Pouco há
Da água de instantes

Tudo é vagaroso

Manto cinza
Enlaça de pernas
Horizontes

Barcos sonados
Em praias preguiças
Despertam saudades
Num esfriar quente

Prata adormece
Fio de gema
E esconde
Rubores
Conservados
Em vasilhas de argila

Os mares são solidões
São frios os dias
D'água

Sem barcos
Sem nada

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Faroleiro

O seu amor
Farol impresso
Em breus
Pros meus navios

Derivam os ais
Sem cais
De calafrios

Ao norte num piscar
Forte
Guia meus prumos

Ao sul a ponta
Erguida em céu
Mostra meu rumo

Caminho em rotas
De areias brancas
Curvas finas

Baias boas
Côncavas, à toa
Esperam-me em guarida

Farolete, o seu amor
Em horizontes
Luz estendida

Doura o mar
Mapa de altar

Pra minha ida.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Essencial

Vida
Empoeirada
Cinza

Nas rodas
Mesmas notas

Ronda em mim
Fagulha
Do que perdi
(Gosto do bom perder)

Perdi a leitura
De alguma passagem

Passaram as rimas
Palavras cansadas
Danças frouxas

Seguiram uivos noturnos
Cães rajados
Em cores

Meu tempo

Os signos de um filho
Ao sorrir sem nem por que

Uma mão minha
Re trazida em carinho

O momento em que o céu
Me encontra em seus azuis

O tempo
A vida
Mais certos
Aqui

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Nosso ar



Sentir o peso

Seu corpo
Quase eu

Nosso laranja
Partindo

Indo
Chegando
Noutro lugar

O ar de seus pulmões...

Enquanto meu ar
Aqui
Ar seu

Brotos de brisa
Do mar
Sopram ares
Das terras de dentro

Meu ar
Seu

Seu ar
Vento...