terça-feira, 26 de agosto de 2008

Avesso

Há em mim uma ponta de faca,
Uma agulha espessa,
Uma tampa folgada.

Há em meu corpo uma roupa velha,
Estrago das horas, marcas clareando.

Não sei quantas casas estão esperando
Tão pouco me importa se há cobertor.

O cão já latiu, o pássaro migrou
Não há sete vidas, o gato cansou.

Não me tome por agora,
Não, não me acredite...

Há sim, lá fora, o sol de costume
E o mar, e os seus marinhos!

É que hoje escrevo entre rios...
Inundando meus aspectos
Afogando minhas mãos.

Há sim, lá fora, o sol de costume
E o mar, e os seus marinhos!

Não me tome por agora,
Não, não me acredite...

Sou apenas uma mulher
Que amanheceu sem cor.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Serenando




Ponho-me com o sol.
Em sua tarde quase noite
De pingos no céu
De panos tingidos.

É de tanto adeus
Que os meus ouvidos
Quedam em cansaço
Na palha gasta de sol.

Reclamo pela luz que se esvai
Pouca e muda,
Enquanto ronca no mar
O que já vai sem partir.

Queria conter o sal
Queria.

É só, ser tanta partida.

Queria conter o sal
Pôr-me junto, compor frangalhos,
Mas turvo!

Amanhã é novo ainda...
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(Fografia: Tiago Lima - www.tiagolima.com)