sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O baile do vento (para o filho)

Vê o vento e a pena. A condução suave em que se envolvem e respiram. Coisa viva é vento e pena!Coisa minha e coisa sua, assim como somos coisas do instante.
Sente o sol dessa manhã, como seus filetes de ouro acordam o rosto num carinho mudo. Calor. Vivo. Quente. Como é presente a sua cor amarela, sobre as copas folhosas das árvores. Vê meu filho, aquele barco que vai longe...
Pelo imenso azul que o sustenta, ele segue. Pequeno ponto solitário. Dentro de seu velho corpo de madeira há um homem. Dentro do homem um desejo. Dentro do desejo a esperança e, a esperança, meu anjo, é mar.
Filho, os homens são tecidos em emoções... Assim como a dança entre a pena e o vento. Assim como o sol acordado em todas as manhãs. Assim como a estrada azul d’água e o barco que persevera.São feitos da mesma areia.Das correntes.Do tempo.
O homem carrega a coragem de vir a ser suas vontades e sua história o marca numa conseqüência eterna. A história é filho que cresce sem nunca poder ser parido. Por isso há homens e homens. Histórias e história. E há você, há eu e há nós.
Talvez entender a fita que ata cada outra fita seja tarefa de pra sempre. Seja a vida mesmo. Só.

Sabe meu filho, aquela pena nos mostra os braços do vento. Cada gesto emocionado por ele, emociona a pena leve e faz garoa em minhas terras. São nesses momentos, que brota, dentro, causa sem nome e que nunca irá se tornar concreta em nenhuma forma de expressão.

Vê meu amor, minha semente...
As conchas. A praia, moça bonita, suas curvas. O sal. Ferrugens nas grades. O sal.

Há horas em que escorre nas valas sangue de gente. Balas zunindo. Facas de aço. Aço de foice. Gritos sem fim. Sangue de gente. Noites sem fim. Gente deitada. Aço de fim.

Mas isso, criança, é coisa pros olhos dos grandes, e você não há de cismar por agora.
Basta-lhe catar as conchas. O rio e suas margens. As pedras dentro d’água.A água.O vento.

Vê...
Meu amor, a vida é vento.
O chorar da sua muda dança com a pena...

Entende o que digo?
A vida. O vento. A pena.

16 comentários:

Raiça Bomfim disse...

Que lindo, meu Deus. Que lindo...

diovvani mendonça disse...

Maravilha!!!
Seu pensamento e escrita, é de desatar nós, "in" nós. ^~~AbraçoDasMontanhas~~^

Anônimo disse...

Belíssima poesia soando como canção de amor, aragem de carinho...
feliz final de semana,flor
beijos

octavio roggiero neto disse...

é como se estivesse ouvindo uma voz suave, serena, amável. é como se o momento só tivesse olhos puros. uma vontade de que este baile nunca deixe de soprar a pena, na dança levitante, no torvelinho, na alegria de rodopiar até ficar tonto e sair cambaleando por aí. bem-aventurados os que enxergam o vento!

diálogo poético: poema (in)vento que (in)vejo, publicado em 29 de abril de 2007 no primícias poéticas.

fundo musical: O vento – Los Hermanos- do CD “4”.

beijos, querida!

Sandra Regina disse...

Que prosa doce...envolvente como o vento... bons ventos os que me trouxerem aqui para ler-te Sopram versos...balançam sonhos pendurados nas rimas... Deliro. Beijossss

Flavia Correia disse...

Ah Camila..., como tens razão: a vida é vento. Nos acaricia o rosto e não o vemos, arranca as folhas e os sonhos em bolinhas de sabão.
Beijo, amiga poeta.

. fina flor . disse...

Também acho qu a vida é um vento e adoooooooooro quando a ventania bagunça meus cabelos.

beijos, querida e bom fim de semana

MM.

Mila Cardozo disse...

Sensacional!!
Vim retribuir sua visita no meu mundo e dou de cara com este texto sensacional!!! To te linkando la no meu mundo pra poder voltar sempre!!!
Beijos Mila

Sol da meia noite disse...

Obrigada pela tua visita.

Fiquei deliciada com o que aqui li.
Sentir a vida, com a simplicidade que aqui descreves, é algo que devíamos valorizar e ter presente em nós... ao contrário de complicar e desperdiçar tudo...

Muitos beijinhos!

Ana Luisa Barral disse...

queria até elogiar seu texto mas acho que não diria nada diferento do que as outras pessoas disseram, então prefiro dizer que ele( seu texto) me emocionou profundamente( de verrdade)...


com relação aos meus versos..
minha ausêcia tem forma!por isso é um peso que vai e vem, as vezes a saudade é tão grande,as vezes a nessessidade de estar só é tão maior.

parabens pelo talento tão bem lapidado.

Raimundo Neto disse...

"Filho, os homens são tecidos em emoções..."

Fil por fio... pode ter certeza!

Bonito, bonito!

Unknown disse...

Puxa, tão bacana quando vc me visita. Porque me faz vir aqui e encontrar palavras tão bonitas. Tão doces.

Pedro Pan disse...

, e as palavras em o vento, em a pena, em a vida.
, agradecido pela visita em quimeras. volte quando desejar.
, beijos meus.

Pietro Leal disse...

Tão tocante que fiz questão de ler todos os comentários. Tão lindo quanto o texto foi a forma como ele incidiu no coração de todos.

...arrepios infinitos.
Lindo, fantástico.

Ansioso pelos próximos.

Marla de Queiroz disse...

Uma das coisas mais lindas que li...

Claudinha ੴ disse...

Lindos seus poemas! Vim agradecer a visita e conhecer seu espaço! "Vida, vento, vela, leva-me daqui..." Vida e vento, ando celebrando a vida, tão desejada. Beijos! Obrigada pela visita tão gentil!Volte sempre!